Templos Orientais

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Templos Orientais
04 de março de 2019

Eu não gosto de carnaval. Acho uma festa extremamente chata e abomino tradições. Todo aquele barulho descontrolado, estímulos sensoriais para todos os lados de forma intensa, me consome demais. Assim, tinha que sair de São Paulo se quisesse algum tipo de paz na mente de tantos estímulos visuais e sonoros e de toda aquela porcaria de glitter poluente que as pessoas, em uma bela hipocrisia, usam, para depois fazerem campanhas de salvar o meio-ambiente.

Sem muita verba havia pensado inicialmente em sumir para o Templo Zu Lai localizado em Cotia em um dos dias da festa ancestral. Templos budistas costumam ser relacionados com calma e paz. Sou ateu, mas o raciocínio lógico dado as possibilidades indicava essa como uma opção. Sem contar que gosto bastante da arquitetura oriental.

Por uma coincidência, o Olavo do @omelhordesampa, iria inaugurar um novo roteiro que visitaria três templos naquela região: o Zu Lai, que eu já iria e os templos Odsal Ling e Kinkaku-Ji. O primeiro é um tibetano que eu desconhecia, o segundo, um japonês que eu conhecia de nome mas sabia ser razoavelmente complicado de chegar sem um carro, mas estava vendo como ia dar um jeito nisso. Então, resolvi aproveitar o roteiro e me inscrevi nele assim que vi que iniciaram-se as inscrições.

E assim, no último domingo, embarquei nesse passeio.

Templo Odsal Ling

Localizado em Cotia, o Odsal Ling é um templo budista tailandês. Lá, eles seguem a  segue a vertente Vajrajana. Existe, dentro do budismo, diversas vertentes de acordo com o local de origem e ensinamentos. O local é grande e oferece uma bela vista para a direção norte, podendo avistar aos olhos atentos, um pequeno trecho da Rodovia Raposo Tavares.

Logo na entrada, no chão, os oito símbolos auspiciosos. Para uma explicação detalhada de seu significado, recomendo a leitura aqui. Lá, há a possibilidade de uma visita guiada que pode oferecer uma breve explicação sobre a origem, a arquitetura, os símbolos na entrada, o porque o templo tem aquele formato. Na visita, tivemos esse acompanhamento no qual fomos recebendo explicações. O site do templo oferece o contato no qual pode-se confirmar os horários sobre e como funciona. Isso é recomendado também para almoçar por lá pois servem refeições no local mediante reserva.

Realmente ao passar dos portões, tem-se a impressão de estar em algum local do Tibet. Uma coisa que me chamou a atenção foram as bandeiras espalhadas pelo local, tanto na escadaria como as da foto abaixo em uma área coberta construída na lateral do templo onde, de acordo com a guia, há reuniões durante eventos que podem receber até 700 pessoas no local.

Na hora em que chegamos, havia uma atividade na parte interior do tempo com a Lama Tsering (se entendi direito) a qual eu não entrei porque eu sei que eu fico inquieto, minhas pernas ficam formigando de ficar sentado, ou era bem capaz de ficar com sono. Sou bem capaz de ouvir alguém falando por horas, mas não sentado no mesmo local, principalmente um com tanto silêncio. Poderia ouví-la caminhando por uma trilha por exemplo.

Sobre as bandeiras espalhadas pelo local, aqui há mais detalhes. Basicamente são preces e sim, passam a impressão de que é uma festa ou que uma irá acontecer, algo que a própria guia comentou no dia. Ao tremular com o vento, as preces são levadas por eles afetando o ambiente todo, resumidamente foi o que ela disse.

Claro que temos um Buda deitado também. A primeira memória que tenho de um buda assim é no fundo da tela do Sagat em Street Fighter II, que era obviamente, na Tailândia. Na verdade representa os últimos momentos da vida de Buda quando ele atingiu o Nirvana (não a banda). Fomos convidados a dar uma volta nele sempre seguindo o sentido horário. Essa parte acho que perdi a explicação ou não entendi direito, mas é algo que já reparei que fazia muitas vezes por ai.

Inclusive, antes de ouvir isso, fiz sem querer ao dar uma volta no templo enquanto havia a palestra na parte interior. Fiz a volta no sentido horário inconsciente. Apenas me pergunto. Quem montou o primeiro relógio, definiu o sentido horário para esse lado por que? Há uma explicação científica para isso? As engrenagens poderiam ter sido configuradas pra rodar para a esquerda não?

Mas voltando, o sentido horário também se aplica às rodas de oração que existem do lado esquerdo do templo, olhando de frente. Deve-se girá-las e dentro delas há mantras que eu fiquei curioso em olhar, mas não o fiz. São impressos? Gravados dentro? Como faz?). Um dia tiro essa dúvida…

Templo Zu Lai

Continuando a jornada pelos templos, seguimos de lá para o Templo Zu Lai, também em Cotia. A distância entre ambos os lugares é bem curta e rapidamente estávamos lá. Esse é o mais conhecido templo, o que muitos já ouviram falar. Seu tamanho impressiona, pois é o maior templo budista da América Latina.

E também por isso, era o que estava mais cheio. O que acaba um pouco com a ideia de sensação de paz total caso se deseje o silêncio, mas as pessoas ali eram respeitosas para com o local que estavam.

Pode-se circular livremente por diversas áreas, sendo pedido apenas o respeito de não fotografar certos lugares que são salas nas laterais para meditação, palestras, itens à venda, etc. Por ser de grande movimentação, não havia um guia, mas isso pode ser agendado para grupos grandes através do site deles. Isso não impede a apreciação do lugar.

Em dado momento da visita, os voluntários do local pediram para que todos não ficassem no meio da área aberta pois uma série de estudantes iria passar por ali. Eram pessoas que estavam em um retiro durante o Carnaval. Tanto aqui quanto no Odsal Ling existem retiros que podem ser feitos em prazos diferentes, com orientações aos interessados.

Não sei exatamente como funcionam os retiros nesses locais, mas pelo que ouvi o funcionário falar (e a guia no outro templo) tem várias opções e informações podem ser conseguidas através dos sites e do contato com ambos os templos. E foi solicitado que não fossem tiradas fotos dos estudantes. Ao menos para mim, bom, a câmera também entrega né? Sendo sincero eu não teria capacidade de ficar em um retiro de quatro dias assim. Poderia fotografar?

Na entrada do templo aquela tradicional imagem do buda gordo e feliz que representa a prosperidade. Havia um na casa dos meus pais e que tinha que ser mantido de costas para a porta pelo que falavam. Não sei se ainda existe. Se existir está num canto com tanta coisa de tanta religião que é a definição da palavra sincretismo.

No templo também existe uma cafeteria e um restaurante, ambos vegetarianos e não é necessário fazer reserva para se alimentar. Mas cobra um pouco de paciência pois ao menos nesse dia a fila do restaurante estava grande e assim, eu pulei a refeição trocando por um lanche já que isso poderia atrapalhar o horário para a saída. E eu não gosto de pegar fila para comer. De lanche, como tenho muita criatividade, uma coxinha. Acho que de soja, não perguntei mas era vegetariana e não era jaca. E uma raspadinha de maracujá que mandou aquele brain freeze gostoso.

Também existe uma loja com artigos budistas para os interessados.

Além da área da primeira foto, há estátuas logo na entrada, um jardim dos 18 Arhats (a palavra “Arhat” é um título que pode ser traduzido como “digno” ou “honrado. A lista dos 18 pode ser vista no site do templo). Ao fundo do templo, um lago na parte lateral para os visitantes observarem. E acima dele, algumas estátuas de buda. Umas com a palma da mão aberta, espalhadas pelo caminho e uma maior.

São muitos os detalhes da arquitetura do lugar, que foi projetado por arquitetos (não só brasileiros) enviados à China para estudar as construções, que foram inspiradas na arquitetura da Dinastia Tang e assim conceberem o local. Algumas partes do templo tiveram de ser importadas de lá já que ninguém fazia por aqui certos detalhes.

Numa próxima ida, espero conseguir almoçar sem correria e pretendo reservar um tempo maior para ver cada detalhe.

Templo Kinkaku-ji

Por fim, seguimos para o Kinkaku-Ji (Templo Dourado). Esse é mais afastado dos outros locais, estando em Itapecerica da Serra. Também é um dos únicos que cobra uma taxa de entrada para os visitantes. E confesso, o que estava mais curioso para ver uma pela descendência japonesa e outra porque já havia visto em fotos e achava ele bem bonito. Mas não me deixo enganar por fotos de Instagram das pessoas então prefiro conferir pessoalmente.

Eu já tinha a ideia de ir lá conhecer o local, porém de transporte público é de difícil acesso e também não há sinal de celular no local, o que atrapalha o uso de aplicativos de transporte. Mas iria dar um jeito de alguma forma mais cedo ou mais tarde.

O local é uma réplica do templo de mesmo nome que existe em Kyoto no Japão desde o século XIV. Existem duas réplicas no país, uma em Curitiba (a qual eu visitei em 2010 meio sem querer) na Praça do Japão e a outra é essa em Itapecerica da Serra. O templo em si fica na parte mais baixa de um vale, e da entrada para ele há um caminho íngreme com degraus no qual, ao longo do caminho encontram-se memoriais pois ali são guardadas as cinzas de pessoas.

O templo foi um dos primeiros no país a realizar a cremação junto do crematório da Vila Alpina em São Paulo. A prática da cremação não acontecia no país devido às tradições católicas, porém começaram a ser praticadas por influência da comunidade japonesa. Inclusive, em um canto do caminho na descida, estão as cinzas do ator Cassiano Gabus Mendes bem identificadas. Perto de onde tirei essa foto abaixo.

Ao longo da trilha há também locais para descanso e um curso d’água que segue desde a entrada, onde há um típico jardim japonês. No meio do caminho há uma pedra sob a qual, está guardada uma cápsula do tempo com jornais e materiais da época da fundação do lugar. Essa é uma tradição oriental pelo que foi explicado pela recepcionista do local.

Não é um caminho difícil de descer mas requer certo cuidado com o tempo chuvoso, como aconteceu no dia que fui. Pedras podem se tornar escorregadias.

Aparentemente há mais de 300 degraus no caminho, algo que foi repetido mais de uma vez. Eu tentei contar mas perdi a contagem e também percebi que em dados momentos o caminho se bifurca, então não sei qual caminho contaram os tais 300 degraus, mas eles não vem todos de uma vez. Mesmo assim, a subida para a saída faz com que você puxe um pouco o fôlego se tentar subir rápido demais. E eu me conheço que, se realmente resolver contar, vou contar todas as bifurcações. Faço essas coisas.

E, como o templo japonês, há um lago com carpas ao lado. Alimentos para os peixes pode ser adquirido na entrada. Com a chuva elas não estavam muito animadas a nadar perto da superfície. Também no entorno do lago há cerejeiras que, na época certa irão florir, criando o espetáculo do desabrochar que muitos gostam de observar no meio do ano em diversos locais de São Paulo e região. Essa tradição veio do Japão e pode ser vista tanto na capital, como no Parque do Carmo, como em fazendas e parques da Grande São Paulo.

A parte interna do templo também era aberta a visitação, podendo assim subir nele e observar o local de cima e algumas salas que estavam abertas. Na parte mais alta, uma sala cheia com incensos para práticas religiosas e paredes com algo que poderia ser descrito como caixas de madeira onde haviam cinzas guardadas por famílias. Próximo dali, do outro lado do lago, há um templo chamado Enko-Ji (Templo das Almas) menor onde são realizadas as práticas budistas com um monge.

Esse foi o templo mais calmo e o que estava mais vazio. Sua localização faz com que ele seja menos procurado e o clima nessa hora estava entre o nublado para o chuvoso, tanto que na subida da escadaria encontramos um pouco de chuva e uma pancada na estrada na volta. E também foi o lugar que mais senti familiaridade, já que muito da arquitetura e detalhes me lembravam a casa dos meus avós japoneses e algumas missas que fui, quando ocorreram alguns falecimentos. O bom dessas missas é que depois sempre tinha comida. E o cheiro é característico demais para mim, deve ser o incenso.

Por fim, hora de retornar à São Paulo. E escapar do restante dos blocos.

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