Marillion – HSBC Brasil

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[Texto publicado originalmente no webzine Portal do Inferno]

Foto: Yuri Murakami

Poucas são as bandas no mundo que podem, e talvez tenham a coragem, de abrir um show com uma canção de 17 minutos sobre um dos locais mais controversos do planeta. O Marillion entra nessa rara lista e, com “Gaza”, inciou seu show em São Paulo, retornando dessa vez com a “Best Sounds Tour”.

Com uma interpretação impressionante não só nessa música, como em todas as outras na noite, Steve Hogarth comandou a apresentação demonstrando ter um domínio completo do palco, não parando em nenhum momento e com a voz ainda em forma. Algo digno de se notar, uma vez que o vocalista já passou dos 50 anos e a idade costuma sempre castigar a voz de muitos.

Mas, mesmo que ele acabe chamando boa parte da atenção, o restante do grupo não deixa de ser notado devido ao seu talento, principalmente o guitarrista Steve Rothery, para o qual muitos olhavam a cada solo. Dono de um bom gosto impressionante, Rothery, mesmo tímido, se tornava o centro das atenções em diversos momentos.

Em comparação à última apresentação do grupo no País, apenas quatro músicas foram repetidas. Duas delas, “Beautiful” e “Kayleigh”, se não fossem tocadas provavelmente gerariam protestos dos fãs. Afinal, mesmo que uma pessoa não saiba quem é o Marillion e conheça sua importância, em algum momento de sua vida ouviu uma dessas canções. “Kayleigh”, junto de “Lavender” e “Heart of Lothian”, todas do clássico “Misplaced Childhood” formaram um dos bis da noite.

Antes, o Marillion fez um apanhado de sua discografia arrancando aplausos a cada canção, fosse a bela “Easter” ou a empolgante “Hooks In You”. Os fãs do grupo estão entre os mais fiéis que existem, e a banda sabe disso há tempos, tanto que antes do crowdfunding se tornar algo comum, eles já haviam organizado turnês com a colaboração de seu público. Essa relação torna o show ainda mais especial, já que não foram poucas as vezes que podia-se ver um sorriso no rosto de um dos músicos ou em alguém da plateia durante a noite.

E, se a apresentação teve início com uma canção de 17 minutos, foi com uma faixa de 10 que a banda encerrou a noite. “Neverland”, única representante do álbum “Marbles” na noite, marcou o fim do show. Impecável, a canção não se enquadra no molde de “típicas canções a encerrar um show” algo que muitos grupos fazem com um grande hit ou alguma canção bem animada. Mas o Marillion é uma exceção, sempre foi, e por ser assim, se mantém relevante e empolgante mesmo após tanto tempo.

Setlist:

Gaza
Easter
Beautiful
Power
Man of a Thousand Faces
No One Can
Warm Wet Circles
That Time of the Night (The Short Straw)
Cover My Eyes (Pain and Heaven)
Hooks in You
This Strange Engine

Bis:
Kayleigh 
Lavender 
Heart of Lothian 

Bis 2:
Neverland