Steven Wilson – Via Marquês

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[Texto publicado originalmente no webzine Portal do Inferno]

Neste ano, o mês de abril foi um prato cheio para os fãs de progressivo em todas as suas vertentes pelo rock e metal. Desde a apresentação de The Wall, por Roger Waters, passando por shows de Opeth, Fates Warning e Queensrÿche. E para finalizar, um dos mais respeitados músicos do gênero: Steven Wilson. Talvez por isso, e pelos outros shows na cidade no mesmo fim de semana, o público não tenha sido tão grande, o que é uma pena, pois, o nível da apresentação foi um dos melhores dos últimos tempos.

O show aconteceu na Via Marquês, uma nova casa com boa localização, próxima ao metrô Barra Funda, e que nessa noite contou com um excelente trabalho de iluminação e som. Isso foi provado quando às 18h em ponto a apresentação tem início com “No Twilight Within the Courts of the Sun”. Em um pano à frente do palco, imagens e vídeos eram projetados enquanto a banda executava a canção ao fundo. O som contava com caixas também na lateral e fundo da casa produzindo assim uma imersão maior dos fãs no evento. E assim seguiu o show pelas primeiras canções, com destaque para “Deform to Form a Star” muito bem recepcionada pelos presentes.

Durante a execução de “Sectarian”, o pano vem abaixo e assim revela-se um Steven Wilson bem animado com a receptividade dos fãs que, a essa altura, já estavam ganhos. E ele a partir daí guiou como um maestro e, às vezes, gesticulando pelo ar junto com as músicas, como se os sons e melodias pudessem ser tocados, uma banda formada por músicos extremamente talentosos e versáteis –  Marco Minnemann (bateria), Theo Travis (saxofone e flauta), Adam Holzman (teclados), Niko Tsonev (guitarra) e Nick Beggs (baixo). Músicos que já trabalharam e/ou acompanharam artistas como Paul Gilbert, Jordan Rudess, Kreator, Robert Fripp, Steve Howe, Seal, só para citar alguns.

Ao decorrer das músicas, Steven alternava entre teclados e guitarras, sempre demonstrando empolgação e envolvendo as pessoas, indo de um lado a outro do palco. As projeções outrora feitas no pano à frente agora eram feitas ao fundo em alguns momentos. Uma nova música chamada “Luminol”, que deverá ser lançada no próximo álbum solo, no ano que vem, foi executada e se mostrou do mesmo nível de todas as outras composições. Estas, aliás, não podem ser incluídas apenas sob um rótulo de “progressivo”, pois outras influências, como jazz e heavy metal podiam ser percebidas em passagens complexas ou pesadas e, às vezes, suaves, sempre executadas com uma precisão impressionante. Steven aproveitou para anunciar que o novo CD será gravado por essa banda com a qual está se apresentando.

Apesar da grande maioria das músicas do set ser do novo CD, algumas faixas do álbum “Insurgentes” foram tocadas, com destaque para “Harmony Korine”, que teve o acompanhamento de seu vídeo junto à música. “Raider II”, executada na íntegra de seus 23 minutos fechou a primeira parte da noite. A banda retorna para um bis com “Get All You Deserve”, aonde os membros se apresentaram usando máscaras variadas. Steven com a mesma máscara da capa do álbum. Tal fato gerou uma grande euforia na plateia.

A banda se despede e Steven volta ao palco acompanhado de seu violão para um momento em que todos sabiam o que aconteceria, mas nem por isso a ansiedade era pequena. Apenas com o primeiro acorde o público grita, o que leva Steven a brincar perguntando como todos poderiam saber que música era aquela, mas na sequência executa “Lazarus”, do Porcupine Tree. A euforia nesse momento se amplia e se torna uma comoção emocionando todos. Enquanto seu técnico troca afinação do instrumento, ele pergunta o por quê da quantidade do público ser menor em relação aos outros países da América Latina se, uma banda como o Rush, que também toca rock progressivo, é capaz de encher um estádio. As respostas para ele são variadas, desde a grande quantidade de shows ao mesmo tempo que vem ocorrendo, ao fato da grande diversidade cultural do país ou que as pessoas aqui, em sua maioria, simplesmente não sabem apreciar boa música. E após isso, anuncia uma música que “por alguma razão é popular”. Com isso, “Trains”, do álbum “In Absentia”, do Porcupine Tree, finaliza o show sendo cantada em coro por todos.

Uma apresentação impressionante é o que pode se dizer desse show, mas há nele um “defeito”: ter deixado todos com uma vontade, agora maior ainda, de realizar o sonho de um dia ver Steven Wilson se apresentando com o Porcupine Tree em terras brasileiras.

Setlist:

No Twilight Within the Courts of the Sun 
Index
Deform to Form a Star
Sectarian
Postcard
Remainder the Black Dog
Harmony Korine
Abandoner
Like Dust I Have Cleared From My Eye
Luminol
No Part of Me
Raider II

Bis

Get All You Deserve

Bis 2

Lazarus (Porcupine Tree)
Trains (Porcupine Tree)