Guns N’ Roses – Arena Anhembi

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[Matéria publicada originalmente no Território da Música/Rock Online]

Existe um apego especial entre o público brasileiro e certos elementos do passado, uma nostalgia por não ter vivido certas épocas musicais. Dessa forma, alguns artistas quando desembarcam no País encontram um público fiel, apaixonado e empolgado, que irá cantar as músicas, solos e riffs e relevar certas falhas ou fraquezas de seus ídolos.

Isso é algo que pode ser visto no show do Guns N’ Roses na Arena Anhembi na noite de ontem. Parte do público ainda chegava quando as bandas de abertura Doctor Pheabes e Plebe Rude fizeram suas apresentações. Em uma sexta feira em São Paulo, o trânsito e a distância entre o local do show e a estação de metrô mais próxima não colaboram muito. Mas parte dos 22 mil presentes sabia que, como manda a tradição, haveria algum atraso no início do Guns e deixou para chegar com calma ao local.

E o atraso veio na espera de mais de uma hora para que, as 23h30, as luzes se apagassem e “Far From Any Road”, tema de abertura da série “True Detective”, composta pela banda The Handsome Family, ressoasse pelo som e marcasse o início do evento principal. Apesar da primeira canção ter sido “Chinese Democracy”, foi com a sequência de “Welcome To The Jungle” que todos esqueceram de vez o atraso até aquele momento e deram início a sua celebração do passado.

O set que se seguiu por mais de duas horas de show alternou hits como “It’s So Easy”, “You Could Be Mine” e “Estranged”, com músicas do controverso “Chinese Democracy” e momentos solos e jams. Os guitarristas Richard Fortus e DJ Ashba executaram seus solos em diferentes momentos, mas foi Ron “Bumblefoot” Thal quem teve o grande destaque aqui. Após tocar “Abnormal” de sua carreira solo, o músico tocou o “Tema da Vitória” que marcou a vida de muitos dos presentes a cada conquista de Ayrton Senna na Fórmula 1. Dizzy Reed e Tommy Stinson também tiveram seus momentos, o primeiro com um solo e o segundo com a cover de “Holiday In The Sun” dos Sex Pistols.

Mas é Axl o centro das atenções na banda. Seja sua forma física (melhor do que nas últimas apresentações no País) ou em sua presença de palco (mais animado que em outros shows). E claro, sua voz. Aos 52 anos, ela não é mais a mesma. E em qualquer cantor nunca seria como era na juventude. Sendo assim em alguns momentos Axl não alcançava certas notas sendo acompanhado pelos backing vocals dos músicos restantes. Em outros momentos impressionou demonstrando que ainda consegue alguns gritos rasgados aqui e ali, principalmente quando mais graves. E no geral trabalhou ela conforme preciso, modificando a dicção para ganhar um folego extra ou buscando líquidos em uma mesa ao fundo do palco ou no backstage durante os solos. Mas ele, e a banda, foram prejudicados pela mixagem do som. Em certas ocasiões não era ele o problema e sim o fato que ou sua voz subia muito de volume ou sumia brevemente. Algo que aconteceu vez ou outra com alguns instrumentos que soaram embolados ou com diferenças de volume perceptíveis.

Não que os fãs se importassem muito. A cada clássico uma nova reação eufórica podia ser vista. De fãs emocionadas cantando “Don’t Cry” e aparecendo no telão, casais abraçados ao som de “Patience” a amigos abraçados cantando “Civil War”, no momento em que alguma dessas era executada, a energia do local mudava e o clima de celebração do passado tomava conta. No fim, era isso que muitos ali buscaram e por isso saíram contentes com um show que entregou isso a eles culminando com uma chuva de papel picado em “Paradise City”.

Dessa forma, com uma banda entrosada, Axl e seus companheiros cumpriram o papel de entreter e celebrar o passado. Além de mostrar o futuro que deve ser encarado com essa formação que, com o restante dessa turnê, terá se apresentado mais vezes no Brasil que a “clássica”.