Anathema – Clash Club

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[Texto publicado originalmente no webzine Portal do Inferno]

Foto: Yuri Murakami

Para algumas bandas, como o Anathema, o Brasil se torna um país inesquecível com fatos marcantes em sua carreira. No caso deles, são problemas, desencontros e cancelamentos, entre outras fortes emoções, tanto com os músicos como com o público. Quem acompanha o grupo conhece a sequência dos fatos.

Aparentemente, a “maldição” havia sumido quando eles tocaram em São Paulo em 2013 e fizeram um show impressionante. Apenas aparentemente. Quando os fãs chegaram à Clash Club, no último domingo, e se depararam com a fila gigantesca na porta, isso já foi o primeiro indício de que algo não ia dar muito certo. A Clash é uma casa que diz ter capacidade para 500 pessoas, de acordo com seu site oficial, no entanto, dentro da casa havia um papel colado na parede indicando capacidade de 800 pessoas, mas claramente havia muito mais que isso no local.

A pista, completamente lotada, abrigou pessoas apertadas até os caixas/guarda-volumes e devido à altura do palco, torna quase impossível uma visão decente do show, a não ser que você esteja no máximo até metade da pista ou nos camarotes lateral e superior. Dessa forma, muitos fãs completaram a diferença de valor do ingresso e tentaram ver o show dos camarotes, o que levou a uma lotação incomum, deixando alguns com a opção de apenas sentar na escada que dava acesso a eles, para ver o show com uma visão prejudicada ou não ver nada. Claro que, com tanta gente, alguns fãs passaram mal com as temperaturas elevadas, com uma até recebendo ajuda de Danny Cavanagh, que gentilmente cedeu água a uma moça próxima à grade.

O atraso no início, não perdoável por se tratar de um domingo, já foi outro sinal de que o clima estava tenso. Pouco antes da abertura da casa, era possível ouvir a banda passando o som tardiamente e quando às 21 horas a música de introdução começou, para simplesmente sumir no meio de sua execução, alguns temeram pelo pior. De acordo com o relato de diversos fãs próximos e do camarote superior, o problema foi que um cabo da mesa de som se soltou pois, apertado, o público acabou por pressionar a grade que cercava a área reservada.

Sem muita demora, o problema foi resolvido e o show finalmente teve início sem surpresas para quem foi atrás de informações na internet sobre os setlists anteriores, pois foi o mesmo que o Anathema apresentou na Europa ano passado nessa tour de divulgação de Distant Satellites, seu recente disco. Dessa forma, a maioria das canções vieram do novo material, sendo que as restantes não apresentaram quase nenhuma variação em relação ao show de 2013.

Mesmo com problemas de som, que resultaram em alguns erros da banda, o profissionalismo dos músicos foi impressionante. Com bom humor, os músicos passaram por cima dessas adversidades com algumas piadas sobre danças em hotéis, agradecimentos ao esforço da equipe da banda e muita acidez por parte de Vincent ao perguntar se o público gostava daquele local, recebendo um sonoro “não” para perguntar na sequência se “o Carioca (Club) era melhor”. Também foi expressado por ele o desejo de shows em outras cidades do País, o que dessa vez não aconteceu e espera-se que em um futuro próximo possa ocorrer, tanto pela banda como pelos fãs.

Nesses pontos e em diversos clássicos, o grupo foi aplaudido com destaque para Lee Douglas, que encerrou de forma emocionante para o público a canção A Natural Disaster. Por essa postura toda, o clima da noite acabou se tornando mais leve, apesar de tudo, e com trechos de Shine On You Crazy Diamond de introdução, o Anathema encerrou a noite com a clássica Fragile Dreams.

Pode-se dizer que o saldo da noite ficou no empate. A banda, com esforço, fez a sua parte agradando como pode nesse quesito, ainda que após o show alguns integrantes tenham demonstraram irritação, mas poderia ter sido inesquecível caso o local fosse outro decente. Por sorte, não foi inesquecível por algum acontecimento ruim que poderia ocorrer pela superlotação. Quaisquer que foram os motivos que levaram a decisão pela Clash, espera-se que em uma futura apresentação sejam corrigidos, para que a banda tenha um local digno e os fãs uma experiência que compense o custo de ir ao evento. Pode parecer que não, mas o local onde um show é realizado influencia muito na decisão do fã em ver o artista.

Setlist:

Anathema
The Lost Song, Part 1
The Lost Song, Part 2
Untouchable, Part 1
Untouchable, Part 2
Thin Air
Ariel
The Lost Song, Part 3
The Beginning and the End
Universal
Closer
Distant Satellites
One Last Goodbye
Deep
A Natural Disaster

Bis:

Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-IX)
Fragile Dreams